Tendo início na década de noventa a série de TV “Power Rangers” – a versão norte-americana, ganhou fama em todo o mundo e tornou-se um grande sucesso de público vendendo variados produtos relacionados. Os personagens coloridos ganharam várias temporadas no decorrer das últimas décadas e, mesmo assim, parecia que nunca mais os Rangers teriam força para retornar ao patamar pop atual. Pois bem, com o longa “Power Rangers” (Idem, EUA, 2017) os cinco heróis coloridos não só retomaram ao cenário pop, como o fizeram de uma maneira bastante positiva.
O plot do longa não se distancia muito ao da primeira temporada da série intitulada “Mighty Morphin” que ficou no ar entre 1993 e 1995. Cinco jovens são escolhidos de maneira mística a se tornarem os novos Power Rangers – guerreiros destinados a proteger um artefato poderoso. E para isso, terão que treinar muito para ficar no mesmo nível que a terrível Rita Repulsa (Elizabeth Banks) quer pegar o artefato para ganhar mais poder.
No entanto, o roteiro de John Gatins e Haim Saban (que ainda passou pelas mãos de mais quatro colaboradores) vai muito mais além de que qualquer temporada dos Rangers e se preocupa em desenvolver cada um dos cinco protagonistas. E isso, além de essencial, deu ao filme o mecanismo necessário para cativar o público. Saban já havia trabalhado na roteirização de algumas temporadas dos Rangers e, muito provavelmente, foi Gatins quem amadureceu a trama e seus personagens. Mesmo com o dedo de tanta gente, o roteiro mantém seu foco do início ao fim, o que é uma surpresa em um caso desses.
Os cinco protagonistas estão ótimos e possuem o mesmo nível de importância. Tudo bem que o Ranger Vermelhor/Jason (Dacre Montgomery) acaba tendo um pouquinho mais de destaque. Porém, sabiamente a história deles é entrelaçada de forma a desenvolvê-los juntos. O que acontece é que o longa acaba entregando cinco heróis incríveis no qual você vai se identificar pelo menos com um. Antes, tomávamos a decisão de qual Ranger ser pela cor do uniforme, mas agora, será pela persona deste.
Interessante observar que os escolhidos para serem os Rangers são jovens com problemas de identidade. Eles estão se conhecendo, não sabem ainda qual o seu papel perante si mesmos e ainda estão sob um contexto marginalizado. Isso acaba casando perfeitamente com o público-alvo do longa, uma vez que é natural esse dilema na adolescência.
Se o roteiro surpre-endeu por desenvolver bem os seus protagonistas, esqueceu-se da vilã. A talentosa Elizabeth Banks tenta, faz caras e bocas, mas sua Rita Repulsa simplesmente não consegue ser marcante. Apesar de visivelmente interessante, as decisões da vilã nem o que a motiva não, nem de longe, esplanadas pelo roteiro. Isso cria efeito contrário aos dos heróis coloridos, deixando sua vilã fraca narrativamente e artificial. O que é uma pena, visto que ela apresenta um background interessantíssimo.
Apesar da pouca experiência nos cinemas – o que havia me preocupado antes, Dean Israelite dirigiu o filme de maneira consciente e conciso, sabendo equilibrar bem os elementos que faz desse tipo de filme algo delicioso: ação, comédia e drama. Tudo isso em timing certeiro para cada ponto essencial da trama: descobrimento, treinamento, lutas, romance, entre outros. O fundamental é que Israelite não teve pressa em trazer os elementos que despertaram maior ansiedade do público e isso foi o que tornou esse filme tão delicioso de se ver.
Tecnicamente o longa também se sai muito bem, obrigado. Quando saiu o primeiro trailer lembro-me de ter ficado um tanto desconfiado dos novos uniformes no estilo Homem de Ferro. Nos primeiros minutos de projeção, no entanto, fica claro o grande acerto da Direção de Arte, que também faz um excelente trabalho na cenografia e na nave espacial o qual Zordon (Bryan Cranston) se encontra.
A edição do filme segue o clima de tranquilidade adotado pelo diretor, sem nenhuma pressa de movimentar o longa o tempo todo. E quando isso acontece, os cortes são precisos de forma a não atrapalhar o entendimento das sequências. Ótimos efeitos sonoros e trilha musical jovial com leves toques de sintetizadores para remeter aos anos oitenta e início da década de noventa, terminam por coroar a ótima experiência de sermos apresentados aos novos Rangers.
Sumidos a algum tempo do cenário pop atual, os Rangers retornam com tudo em um filme extremamente bem trabalhado com um ritmo de aventura ideal para toda a família assistir. Além de homenagear a série clássica e ainda brincar com outros filmes, como Transformers, em uma ótima cena por sinal, o novo longa acrescentou vários pontos à mitologia da saga. Agora, torcer para a franquia se manter no nível deste primeiro filme, pois já começou com o pé (ou pés) direito! Go!
Nota:9.0/10.0