O tempo passa rápido. Já faz cinco anos desde que “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” estrou nos cinemas com o clima de despedida daquele universo mágico criado pela britânica J.K. Rowling que encantou gerações por uma década. Não demorou muito para que fossem anunciados mais cinco filmes que se passarão no mesmo universo encantado. Assim, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” (Fantastic Beasts and Where to Find Them, EUA/Reino Unido, 2016) chegou aos cinemas nessa última quinta-feira.
No longa, acompanhamos a chegada do magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne) em uma Nova York na década de vinte. Carregando uma mala cheia de criaturas mágicas, tudo vira uma confusão quando esbarra com o trouxa Jacob Kowalski (Dan Fogler) e logo todos esses animais do mundo bruxo saem da mala causando confusão pela cidade. Estrangeiro, Newt se vê perseguido pelo governo mágico estadunidense que receia a exposição de seu mundo.
Depois de uma década se deliciando com os filmes de Potter, tive muito receio para esse retorno ao mundo mágico. E o receio se mostrou correto em grande parte. Tendo Eddie Redmayne como protagonista, o longa não consegue garantir um encanto essencial que esse tipo de filme deveria ter. Com uma fotografia demasiadamente – e desnecessariamente escura, o filme surge sem nenhum encanto. As criaturas não são tão fantásticas assim e tão pouco o elenco.
Eddie Redmayne, que quase sempre faz ótimos trabalhos, aqui surge com uma interpretação extremamente forçada. Fazendo de seu Newt um personagem tímido, que raramente encara alguém no rosto, e se transforma, em tela, em atitudes extremamentes artificiais. O mesmo problema se encontra com o Ezra Miller, cujas atitudes soam bem genéricas. Realmente, no elenco, ninguém se destaca, com exceção de Dan Fogler que, ao dar pele a um não bruxo, consegue transmitir levemente o sentimento de encantamento pela magia que necessário no filme. Ainda carregando o papel de alívio cômico, Fogler o faz sem parecer forçado.
O responsável por essas interpretações forçadas é ninguém menos que David Yates que havia feito um excelente trabalho nos quatro últimos exemplares da franquia Harry Potter. Iniciando uma nova jornada cinematográfica, Yates não teve sensibilidade de trazer os elementos essenciais para se adentrar naquele ‘novo’ mundo com os novos personagens, mostrando ter muito mais habilidade em lhe dar com as sequências de ação. Muita coisa parece ter sido deixado de lado para explorar nos demais filmes.
O roteiro, escrito pela própria J.K. Rowling é simples e muitas vezes infantil, mas muito bem amarrado, fechando bem os três arcos que ele desenvolve durante a projeção. Muito interessante notar de como a autora se utilizou de elementos relacionados ao mundo bruxo para construir uma crítica social ao nosso mundo real.
Trata-se de um filme longo. Com mais de duas horas de duração, tem um momento que o longa se arrasta, fica chato, visualmente a falta de cor cansa e parece que o filme nunca vai terminar.
Tecnicamente, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” é incrível. Direção de arte espetacular, desde a ambientação de Nova York na década de 1920, desde a criação do mundo bruxo naquele contexto. Assim como também os efeitos visuais – esses sim, fantásticos, que aparecem em tela de maneira a fazer parte daquele universo e não de sobressair sobre ele. A trilha sonora de James Newton Howard, experiente em filmes de ação, é tão apática quanto o elenco. Intercalando trechos clássicos da trilha de Potter, as músicas não empolgam. Outro compositor teria sido uma melhor opção.
Podemos sentir um clima mais empolgante dentro da mala de Newt, não apenas por causa das criaturas que estão presentes ali. Mas, porque a interação entre Eddie Redmayne e Dan Fogler ficou ótima, sem o primeiro está tão artificial em sua atuação, evidentemente, mostrando como o seu personagem gosta de estar com aquelas criaturas, se viu livre da necessidade de se mostrar tímido o tempo todo.
Ao término da sessão, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” termina sem mostrar o que se espera pelo título: um universo fantástico. Trazendo uma paleta de cor morta, o longa passa longe de trazer um clima mágico. Tem-se que tirar essa mentalidade que filme escuro é filme mais adulto. Comparando ao primeiro Harry Potter percebemos como aquele filme lá em 2001 de Chris Columbus é muito mais fantasioso. Esse derivado errou justamente aí, em não trazer esse clima de encantamento mágico, talvez essa seja a razão das crianças de agora, segundo pesquisa do Box Office, não estarem buscando esse filme nos cinemas e, mas sim, os adultos que acompanharam a jornada de Potter.
Nota: 6.5/10.0