Desde que o seu episódio piloto surgiu no Youtube em 2011, desenvolvido por estudantes de audiovisual na USP, a série “3%” ganhou uma grande variedade de fãs. Dirigidos por Daina Giannecchini, Dani Libardi e Jotagá Crema depois da aprovação da primeira etapa em um edital do Ministério da Cultura que financiou o episódio piloto. Os demais episódios não foram feitos porque a série não ganhou o edital e, desde então, a produção ficou esperando uma mão amiga, assim como seus guerreiros idealizadores. E, por fim, a série ganhou novos contornos quando a Netflix estendeu sua mão e adquiriu os direitos para produzir uma temporada! E assim, já quase no final de 2016, todos os episódios da série entraram no catálogo da plataforma de streaming.
O título “3%” se dá porque a história se desenvolve em um futuro pós-apocalíptico dividido pelo lado de cá, o pobre, e o lado de lá, o rico, onde apenas as melhores pessoas são selecionadas para irem morar lá, ou seja, apenas 3% da população. Somos convidados a conferirem o processo eletivo de vários jovens que, ao completarem vinte anos, tem a chance de partirem para o lado de lá – ou o chamado Maralto, caso passe pela seleção idealizada nos mínimos detalhes por Ezequiel (João Miguel).
A série é composta por oito episódios e apresenta altos e baixos. O elenco, maior parte oriundos de parceiros da Rede Globo – e, provavelmente, desconhecidos do público da Netflix, tipo eu, faz bem o seu trabalho embora nenhum consiga realmente surpreender. Nomes como Rodolfo Valente, na pele do destemido Rafael e Rafael Lozano que vive Marco Alvarez foram ótimas surpresas. O primeiro encarna bem um personagem no qual suas ações são totalmente imprevisíveis e suas atitudes sempre duvidosas. Já o segundo passa por um grande momento de mudança e, graças a pequenos gestos corporais do ator, essa metamorfose acaba se mostrando válida. Gostei bastante, também, de Joana vivida por Vaneza Oliveira que, dentre os jovens, foi a melhor desenvolvida, embora sua resolução final tenha sido um tanto decepcionante – nada que uma segunda temporada não possa resolver. Bianca Comparato acaba sendo encarada como a protagonista da série e sua Michele Santana sempre soa sonsa em tela. Esse problema não é por causa da atriz, uma vez que é visível o esforço de Comparato para dar à sua personagem um background interessante. Mas o maior calor da série é o roteiro.
Tentando desenvolver cada jovem principal em cada episódio, o roteiro em vários momentos range, fica chato e não consegue surpreender em nada. Isso porque todas as tramas que poderiam render ótimo suspense ao espectador são entregues sem nenhuma construção de mistério, o que deixa a série bem menos interessante. Tendo integrantes da chamada Causa – grupo de pessoas que repudiam o processo seletivo, o roteiro não tarda a mostrar que são eles e isso quebra um potencial clima de suspense. Uma pena.
Sendo uma produção da Netflix, que preza pela qualidade de suas produções originais, era de se esperar grande qualidade técnica na produção. Filmada em resolução de 4K, elementos como figurino, iluminação, som e trilha sonora ficaram muito bons. Na direção, além dos três diretores originais, temos também César Charlone – mais experiente em grandes produções que os demais, o que rendeu uma mistura interessante durante a projeção dos oitos episódios. Embora alguns momentos – principalmente os últimos episódios, a direção pareça preguiçosa em buscar imagens mais interessantes e tomadas mais inspiradoras, tivemos ótimos momentos dos primeiros quatro episódios.
No final, “3%” acaba se mostrando uma ótima pedida. Apesar de várias falhas e roteiro fraco, a trama apresenta uma estrutura técnica interessante e elenco dedicado. Sem contar do fato de se tratar de uma obra nacional, o que pode reforçar os estúdios do país a ideia de investir mais em outros gêneros e formas nas nossas produções audiovisuais. Agora, vamos ficar de olho nesse elenco jovem que prometem!
Nota: 7.0/ 10.0