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Conheça o canal Serviço de Representação e o feminismo nos filmes de Hayao Miyazaki

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O que filmes de animação e feminismo podem ter em comum? É isso que o Serviço de Representação explora – ou Representation Service, como preferirem chamar. Trata-se de um projeto criado por Jéssica Oliveira e Clara Monteiro, alunas do curso de Comunicação Social Jornalismo, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Orientadas pela professora Agda Aquino, o conceito inicial do canal no YouTube surgiu da afinidade das estudantes pelo universo nerd e cultura japonesa, mas além disso, nasceu também da preocupação das mesmas, como mulheres e comunicólogas em formação, de analisar criticamente a representação da mulher na mídia.

Logo do projeto
Marca do projeto, com Kiki do Serviço de Entregas, filme de 1989.

Unindo o útil ao agradável, Jéssica e Clara escolheram um produto específico no vasto mundo da cultura pop e encontraram nas animações japonesas do estúdio Ghibli o tema perfeito para ambas, duas fãs das animações de Hayao Miyazaki e companhia. Mas a escolha do diretor em específico não foi por acaso. “Acreditamos no trabalho dele, que apesar de ser homem, retrata mulheres de maneira humana e única, livre de estereótipos”, ressalta Jéssica. Os seis filmes escolhidos para análise foram: Nausicaa do Vale do Vento (1984), O Castelo no Céu (1986), O Serviço de Entregas da Kiki (1989), Princesa Mononoke (1997), A Viagem de Chihiro (2001) e Castelo Animado (2004).

Da esquerda para à direita: San de Princesa Mononoke, Nausicaa do Vale do Vento, Kiki de O Serviço de Entregas, Sheeta de O Castelo no Céu, Sophie de Castelo Animado e Chihiro, do filme ganhador do Oscar
Da esquerda para à direita: San de Princesa Mononoke, Nausicaa do Vale do Vento, Kiki de O Serviço de Entregas, Sheeta de O Castelo no Céu, Sophie de Castelo Animado e Chihiro, do filme ganhador do Oscar

Reverenciado no ocidente, Hayao Miyazaki recebeu o Oscar de Melhor Animação em 2003, com A Viagem de Chihiro, e o Oscar Honorário pelo conjunto da obra, em 2014. É de seu filme de 1989, Serviço de Entregas da Kiki, que vem o nome do canal – baseado num conto da escritora Eiko Kadono e que conta a história de uma bruxinha de 13 anos que precisa sair para treinamento em uma nova cidade. “O nome do canal surgiu naturalmente ao notarmos como Miyazaki praticamente nos presta um serviço de representação feminina com filmes tão bons e protagonistas tão incríveis.”, diz Jéssica.

Hayao Miyazaki recebendo o Oscar Horonário em 2014
Hayao Miyazaki recebendo o Oscar Honorário em 2014

O tema representação veio da emergência do debate sobre igualdade de gênero, que surgiu a partir dos movimentos feministas ocorridos no século XX. “Representação é sobre fazer com que as pessoas se vejam dentro de uma obra, se reconheçam em um personagem e se sintam incluídas socialmente.”, explica Clara. Embora seja um assunto sério, as estudantes pretendem compartilhar o conteúdo da maneira mais didática possível, e por isso a preferência em usar uma mídia social no projeto. “O YouTube é um meio muito mais dinâmico e acessível ao público em geral do que um trabalho acadêmico. O formato pode ser consumido por todo tipo de pessoa, em qualquer canto do mundo e é isso que queremos: chegar ao maior número de pessoas, tanto para apresentar essas obras que gostamos, quanto para mostrarmos como é possível fazer protagonistas femininas fortes e ainda assim fazer sucesso”, afirma Clara.

Nascida no sertão paraibano, Jéssica Oliveira cresceu em Angra dos Reis no litoral-sul do Rio de Janeiro. Clara Monteiro é paraense, da cidade de Santarém, mas morou em várias regiões do país. Foram acolhidas por Campina Grande para cursar Jornalismo. Escolher explorar no TCC um produto que veio de longe – Japão – não é mera coincidência para duas mulheres que se consideram cidadãs do mundo e de lugar nenhum.

O produto, que é pioneiro no curso, vem como forma de consolidar uma nova geração de comunicadores, que cresceram em meio a tecnologia e as facilidades da internet. Os novos produtores de conteúdo têm liberdade para criar em diversas plataformas, tendo flexibilidade em sua produção. O modo como as informações são veiculadas podem ser consideradas como uma nova forma de se fazer jornalismo, uma vez que o ato de contar histórias e notícias apenas de adaptou a essa realidade. O YouTube é, atualmente, a maior plataforma de compartilhamento de vídeos do mundo e que pode ser acessada por qualquer computador ou dispositivo móvel, fazendo com que o site seja de fácil acesso. “Os cursos de comunicação têm que ficar atentos a esses fenômenos e oferecer a possibilidade dos alunos mergulharem nesse novo universo, inclusive visando um futuro profissional na área”, destaca a professora Agda.

Desde o dia 30 de agosto, os vídeos estão indo ao ar duas vezes por semana: às terças e quintas, sempre às 19:30, no canal Representation Service. Um teaser do trabalho está disponível na página do Facebook e no próprio canal, mostrando um pouco do modo como ambas realizaram o projeto.

Teaser:

 

Canal no YouTube: http://bit.ly/2bStyh2
Página no Facebook: Serviço de Representação